Morro Seco - Histórico

O território até hoje ocupado pela comunidade era um sertão de mata alta, de nome Capoava, para onde os escravos fugiam. Era uma área isolada: não havia estrada e a única saída era para Iguape, pelo Rio Morro Seco até sair no Rio Peroupava, sendo necessários 4 dias de canoa a remo até a cidade. Esse era o percurso que os moradores faziam para levar o arroz para ser vendido em Iguape, depois de terem embarcado nos portos de Nhá Juséfa e Guamixama.

Uma das lembranças dos atuais moradores com relação aos escravos é de Juari Alves Pereira: “Geraldina Rita Modesta Alves, nossa mãe, dizia quando ainda éramos pequenos: ‘Minha avó era escrava’.” Seu pai, Hermes Modesto Pereira, de 65 anos, conta que seu pai, Joaquim Soares Alves dizia: “Acho que meu pai era escravo, por ser mais preto do que eu, por ter o nariz bem grande e os lábios grossos”.

Considerando a influência de outros povos na formação da comunidade, o sr. Armando Modesto Pereira, de 71 anos, diz: “Minha avó era branca, de cabelos pretos e longos”. Izaltina Geraldina Modesto, também uma moradora quilombola, afirma: “Ela era descendente de português.”

Sobreviviam principalmente da roça, em especial de arroz, feijão milho e mandioca. Organizavam mutirões para a roça e faziam festas em conjunto. Para essas atividades era convidada toda a vizinhança onde dizia-se: “Podes me ajudar no próximo sábado?” Depois de um bom convite ia se discutir o que teria na festa. Tudo corria muito bem e certo.

Diz o senhor Armando, de 71 anos: “Por volta de 1940, nosso pai, Joaquim Soares Alves, nos contava que quando era ainda menino e já aconteciam na vizinhança os de-mão, as festas, as danças e os mutirões”. E foi reforçado por Antonia Domingues de Assis, de 86 anos, que diz: “Quando eu tinha 15 anos já existia fandango”.

Muito religiosos, guardavam vários preceitos, principalmente na Quaresma e Semana Santa: durante toda a Quaresma não se comia carne nas sextas-feiras, não cortava cabelo, não tocava viola e não dançava. Só voltava a dançar no Sábado de Aleluia. Dizia-se até que Jesus pegou a cruz na Quarta-feira de Cinzas, carregou durante 45 dias e morreu na Sexta-feira Santa. Quarta-feira de Cinza e Quinta-feira Santa eram dias de jejum. Na Quarta-feira de Cinza e na Sexta-feira da Paixão, varria a casa e não jogava o lixo fora. Na Quarta-feira Santa não se fazia nada até o meio dia. Na Quinta-feira Santa não se fazia nada depois do almoço, por entender que era um dia santo e que devia ser respeitado e por não ter claro ainda sobre a agonia de Jesus.

Até a década de 1950 a população que se localizava nessas imediações era chamada de vizinhança. O conceito de comunidade chegou ao Morro Seco trazido por um representante da Igreja Católica. Nessa época, o representante religioso orientou que dali havia de se escolher uma pessoa que fosse representar a comunidade nas atividades que aconteciam fora dali, sendo esse chamado de representante da comunidade.

A idéia de criar uma associação veio quando se sentiu a necessidade de se organizar melhor para busca de melhores condições de vida para a comunidade, através principalmente do reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo e a titulação da terra ocupada tradicionalmente. “Em 1999 com a presença de assessores técnicos e jurídicos começamos a discutir para a elaboração de um Estatuto. Foram quase 3 anos de discussão até a constituição da associação, que aconteceu em 25 de agosto de 2002 e formalizada em 03 de fevereiro de 2003”, diz Juari.